terça-feira, 14 de setembro de 2010

Seleção alemã daria calafrios a Hitler

Neuer, Castro, Boateng, Tasci, Aogo, Pezzoni, Khedira, Marin, Ozil, Sukuta-Pasu e Podolski. Se não fosse por alguns destes jogadores, bem mais conhecidos, não se desconfiaria o que estes onze atletas têm em comum. Hitler teria calafrios ao ouvir o nome de algum deles sendo chamado para representar a seleção da Alemanha. A questão é que dentre os atletas citados, o único alemão mesmo é o goleiro Manuel Neuer, do Schalke. Todos os outros (aptos para jogar pela seleção alemã, alguns tendo disputado a Copa do Mundo deste ano, inclusive Neuer) têm menos de 25 anos e ascendência de outro país ou sequer nasceram na Alemanha.
(Hitler)

A posição de goleiro é a que menos tem essa ocorrência. Dos jovens do país, Rene Adler (Leverkusen) e Manuel Neuer (Schalke 04) saem na frente por serem os mais velhos e já terem sido titulares da seleção – 25 e 24 anos. Os mais jovens a aspirarem a camisa 1 alemã são Sven Ulreich (Stuttgart) e Ralf Fährmann (Frankfurt), ambos de 22 anos. Da nova geração, nenhum teria sido enviado a campos de concentração.

As laterais, por outro lado, foram completamente invadidas por estrangeiros. Na direita, temos Gonzalo Castro (ascendência espanhola – 23 anos) e Daniel Schwaab (22), do Leverkusen, e o russo Andreas Beck (23), do Hoffenheim. Na esquerda, o principal destaque é o polonês Sebastian Boenisch (23), do Werder Bremen, apesar de Dennis Aogo (ascendência nigeriana – 21 anos), do Hamburg, ter sido reserva na Copa do Mundo 2010. Buscando até entre os mais jovens, um dos destaques da posição é o russo Konstantin Rausch, de 20 anos, do Hannover. Nesta posição já teríamos dois comunistas, um judeu e um negro.

(Podolski e Klose, o ataque 'polemão')

Apesar de haver mais alemães entre os zagueiros, os de maior destaque seriam eliminados de primeira durante o regime nazista. Jerome Boateng (22), do Manchester City [ENG], é filho de ganeses (seu irmão defendeu Gana na Copa) e Serdar Tasci (24), do Stuttgart, tem ascendência turca. Um excelente alvo, visto que seus concorrentes seriam os alemães Matt Hummels (21), do Dortmund, Holger Badstuber (21), do Bayern, Benedikt Howedes (22), do Schalke 04 e Stefan Reinartz (21), do Leverkusen.

No meio-campo tivemos dois excelentes exemplos na Copa do Mundo, recém-contratados pelo Real Madrid. Sami Khedira (23 anos, ascendência tunisiana) dominou o meio-campo defensivo alemão e deu suporte para Schweinsteiger sair e jogar com Mesut Özil (21 anos, ascendência turca), o principal articulador da equipe. Pelos lados ainda temos Marko Marin (21 anos, bósnio), do Werder Bremen e os alemães do Bayern Thomas Muller (21) e Toni Kroos (20).

No ataque já chegamos praticamente a mais uma geração de estrangeiros. Para começar, o maior artilheiro em Copas da seleção alemã é polonês e não se vê desde a Copa do 98, com Oliver Bierhoff, um grande atacante alemão, mesmo. Enquanto essa primeira geração de estrangeiros se despede do ataque alemão (o polonês Miroslav Klose, o suíço Oliver Neuville, o nigeriano Gerald Asamoah, os brasileiros Kevin Kuranyi e Cacau), percebemos que a renovaçação já é a segunda geração, com Lukas Podolski (25 anos, polonês), do Colônia, e Mario Gómez (25, filho de espanhóis), do Bayern. Além deles, um ataque que tem sido constante nas categorias de base da seleção (apesar de não impressionar muito) é Richard Sukuta-Pasu (20), filho de congoleses, e Deniz Naki (21), de ascendência turca, ambos atletas do St. Pauli, recém-promovido a Bundesliga.

(Khedira, Boateng e Ozil)

Imaginar que poderíamos não ter tido Boateng, Khedira, Ozil, Podolski e Klose na Copa do Mundo (pelo menos não pela Alemanha) por conta de uma ‘verdade dominante’ chega a ser absurdo - para nós, no nosso tempo. Percebemos que os alemães continuaram a saber se defender, renovando eficientemente seus goleiros e ainda revelando um saudável número de bons zagueiros. Daí pra frente só se destacam Muller e Kroos, dentre inúmeros estrangeiros - e se a seleção nacional fosse depender somente dos alemães, teria uma equipe ofensivamente medíocre. Mesmo que a Alemanha continue não sendo mais só dos alemães, aceita-la composta por turcos, ganeses, congoleses e poloneses é propor uma nova miscigenação de culturas no futebol. A fórmula funcionou para Holanda e França formarem grandes equipes em um ano, um torneio, mas não para ganharem títulos de uma época. Com a tradição da seleção alemã nas costas, seria esse o verdadeiro início do futebol ‘brasileiro’ no Primeiro Mundo?

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O fim da 'Era Laranja' de Madrid

O mercado de transferências europeu deste ano marcou o fim de mais uma 'era' do Real Madrid. De 2006 até 2010, o Real chegou a ter seis holandeses no elenco - mais da metade da equipe, visto que todos os atletas eram constantemente convocados para sua seleção - mas não conseguiu repetir o sucesso dos compatriotas que jogaram no arqui-rival Barcelona (em 2003 o Barça chegou a ter também seis holandeses - Reiziger, van Bronckhorst, Davids, Cocu, Kluivert e Overmars - sendo que Frank de Boer, Zenden haviam jogado no clube a pouco tempo). Nesta janela de verão europeu, Rafael van der Vaart (Tottenham) e Royston Drenthe (Hercules) foram os últimos a deixar o Santiago Bernabéu. Chegaram o zagueiro Ricardo Carvalho (Chelsea), o volante Sami Khedira (Stuttgart), os meias espanhóis Pedro León (Getafe), Sergio Canales (Racing Santander), além dos jovens destaques Angel di Maria (Benfica) e Mesut Ozil (Werder Bremen). Temos que admitir que foram excelentes contratações, que visaram dar experiência a defesa e gás para o meio-campo galáctico madridista, que já contava com Kaká, Xabi Alonso e Lass Diarra - mas que não teve muita perna na última temporada com as seguidas lesões do meia brasileiro. O ataque formado por Cristiano Ronaldo, Benzema e Higuaín coloca qualquer defesa pra tremer. De fato, Mourinho montou muito bem a equipe para este ano, mas não estamos aqui pra falar do que Mourinho vai fazer ou seus novos comandados. Mas de alguns atletas que deixaram a equipe.

(Ruud van Nistelrooy)

Sob o comando de Fabio Capello, em 2006, o Real Madrid contratou o primeiro holandês deste período, Ruud van Nistelrooy, do Manchester United. Neste contexto, a equipe estava sem o seu grande finalizador, Ronaldo, que se contundia com freqüência e posteriormente se transferiu para a Milan. A equipe ainda tinha Raul, Robinho e Cassano para completar a posição, e contratara também o jovem Gonzalo Higuaín. Esse foi um período pós-galáctico em que a equipe começou a investir em jogadores jovens de outros países (como Fernando Gago e os próprios Robinho e Higuaín) e acabou esquecendo de alguns valores espanhóis (tendo disperdiçado neste período jogadores como Arbeloa, Mata, Negredo e Borja Valero, que foram estourar em outros clubes). Com a saída de Capello no final desta temporada e a chegada de Bernd Schuster, ex-treinador do Getade, o Real se tornou mais laranja ainda. Nesta temporada, o Real adquiriu o lateral-esquerdo Royston Drenthe, do Feyenoord, e os meias Wesley Sneijder, do Ajax, e Arjen Robben, do Chelsea, enquanto os galácticos Roberto Carlos, Beckham e Emerson se despediam da Espanha. Neste ano o Real foi bicampeão espanhol com sobras, dando crédito a equipe e ao treinador para o ano seguinte, quando chegaram o meia Rafael van der Vaart, do Hamburg, e o atacante Klaas-Jan Huntelaar, do Ajax.

(Wesley Sneijder)

Porém, 2009/10 foi mais complicado para o Real Madrid com a reascensão barcelonista, deixando os merengues com o vice-campeonato e dois treinadores a mais na história do clube - durante a temporada Schuster foi substituído por Juande Ramos, que não resistiu no fim da temporada. Para seu lugar, chegou o chileno Manuel Pellegrini, que ficou encarregado de organizar a nova 'era galáctica' (iniciando a decadência da 'era laranja') do Real Madrid, que traria ao clube nomes como Cristiano Ronaldo, Kaká, Karim Benzema, Xabi Alonso e Raul Albiol. Neste ano começou a debandada dos holandeses, que tinham o aval do treinador Schuster como certeza de permanência. Assim, seguiram seus rumos os meias Wesley Sneijder (Inter-ITA), Arjen Robben (Bayern München-GER), e os atacantes Huntelaar (Milan-ITA) e van Nistelrooy (Hamburg-GER).

(Arjen Robben)

O Real Madrid, pelo menos para dois destes atletas, foi um excelente estágio. Sneijder e Robben comandaram suas equipes até a final da UEFA Champions League da temporada 2009/10, que acabou ficando com os italianos maestrados pelo pequeno gênio. Enquanto o Real Madrid sofria com as lesões de Kaká e Cristiano Ronaldo, Robben marcou 16 gols no campeonato alemão, 4 na UCL e assistiu Sneijder organizar a Inter e levantar a taça. Não só bastasse, o Real Madrid foi eliminado na Liga dos Campeões nas oitavas-de-final e ficou com o bi-vice-campeonato espanhol - enquanto o Bayern e Inter foram campeões nacionais. Huntelaar, na Milan, chegou ao terceiro lugar no campeonato italiano e essa temporada seguiu para o Schalke 04, da Alemanha. Van Nistelrooy, próximo de encerrar a carreira no Hamburg, chegou as semi-finais da Europa League, eliminado por muito pouco pelo Fulham, da Inglaterra, além de um desagradável 7º lugar na Bundesliga. Nesta temporada, os últimos holandeses deixaram o Real Madrid, van der Vaart rumo ao Tottenham, da Inglaterra, prometendo uma grande dupla de meio-campo com o croata Luka Modric para a disputa da UCL (no mesmo grupo que Inter e Werder Bremen), e Drenthe, que fará companhia à David Trezeguet e Nelson Valdez, no Hercules - uma das equipes pequenas que prometem aprontar neste campeonato espanhol. Sabemos que dificilmente os últimos moicanos superarão seu ex-clube como fizeram os gênios Sneijder e Robben, mas esta temporada será uma boa prova para esses holandeses se seu 'estágio' no Real Madrid ajudou-os a amadurecer.