segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Seguura Galvão!

"O Milner, ele é canhoto, ele bateu com o pé direito direto pro gol, mostrou habilidade... não era a perna boa, pra sorte do Brasil." Depois de assistir a transmissão de Brasil x Inglaterra pela Globo no último sábado, essa frase ficou ecoando na minha cabeça por quase todo o domingo e não resisti a escrever algumas considerações por aqui.
Primeiro lugar: Na segunda metade do segundo tempo, tivemos a entrada do atacante Peter Crouch no lugar de Shaun Wright-Phillips, na Inglaterra. Para quem acompanhou a substituição pela telinha da Globo, o atacante teve uma pequena mudança em seu nome no letreiro para CrouNch. Segundo lugar: Pouco tempo depois, Dunga tirou Nilmar (que, aliás, deixou Brown sem rumo) e colocou Carlos Eduardo para estrear com a camisa amarelinha. Porém, o letreiro anunciou a entrada de Josué. Para surpresa dos telespectadores, por volta dos 35 minutos do segundo tempo, parecia que Dunga estava fechando bastante a equipe, quando na verdade estava apenas dando a primeira chance ao ex-gremista. Terceiro lugar: Este ponto creio que seja o mais importante. Quando alguém recebe a tarefa de narrar ou comentar um jogo, pressupõe-se que deva ter conhecimento suficiente sobre os jogadores em campo para não cometer gafes. Assim sendo, pouco tempo depois do penalty perdido pelo Brasil (e antes da entrada de Crouch), Wright-Phillips cruzou para Milner (que entrava pelo lado esquerdo do ataque inglês), que finalizou por cima do gol de Júlio César. "O Milner, ele é canhoto, ele bateu com o pé direito direto pro gol, mostrou habilidade... não era a perna boa, pra sorte do Brasil." Não consegui me conter. Para quem duvidar, seguem neste post os melhores momentos narrador por Galvão. Assim, convido a todos para assistir também ao penalty que o meia desperdiçou na semi-final da Euro sub-21 deste ano. (O jogo terminou em 3x3 entre as equipes, e nos penalties os ingleses venceram por 5x4.)
Como sabemos, ser canhoto ou destro é uma questão genética, ou seja, não podemos mudar isso durante nossa vida, como mudamos cor da pele ou do cabelo. Independente disso, sempre há um "original". No máximo, nos adaptamos a utilizar o membro "fraco", como o atleta James Milner faz. Para quem acompanhou o jogo, deve ter visto o meia finalizando e também cruzando com a perna esquerda, mas o camisa 8 do Aston Villa, como todo destro, cobra seus penalties com a perna direita. Assim, ao contrário do que o Galvão disse, o Milner errou, pra sorte do Brasil. Já que era a perna boa, sim. Disponibilizo também um gol do atleta quando ainda jogava pelo Leeds United, seu primeiro clube. O jogo ocorreu pela 21ª rodada do Campeonato Inglês 2002/03 e Milner faria 17 anos em pouco mais de uma semana. O meia fazia sua temporada de estréia e era o dono da camisa número 38, tendo entrado em campo para substituir uma das estrelas da equipe na época, Harry Kewell. Como sabemos, um atleta de 16 anos, mesmo tendo condições de utilizar as duas pernas, dificilmente arriscaria cometer erros bobos. Como vemos, Milner finaliza de fora da área com a perna direita.
Destro ou canhoto, pode parecer um detalhe. Mas para o entendimento do jogo, é um detalhe fundamental.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Uruguai: a esquina entre Brasil e Argentina

Antes de mais nada, quero lembrar a todos que este texto nada tem a ver com Futebol Europeu. Ele é uma resenha sobre o duelo Brasil x Argentina que eu fiz para a faculdade, que eu decidi colocar aqui! A idéia era resenhar um texto que fala sobre a atuação da mídia no acirramento da rivalidade entre os dois países. Então, aproveitem! =]

"A rivalidade existente entre o Brasil e a Argentina é uma das mais antigas no que tratamos de mundo futebolístico. Juntas, as duas seleções têm onze títulos mundiais (sete Copas do Mundo e quatro Copas das Confederações) e vinte e duas Copas América. Além disso, seus clubes já estão acostumados a figurar nas fases finais dos torneios do continente. Como coadjuvante desse confronto encontramos o Uruguai, detentor de duas Copas do Mundo e catorze Copas América. Mesmo número de títulos dos argentinos.

Quando a primeira Copa do Mundo foi disputada, em 1930, sediada e vencida pelo Uruguai, já haviam sido disputadas doze Copas América. Sendo metade delas vencidas pelos uruguaios, enquanto os argentinos tinham levantado quatro e os brasileiros, somente duas. Nesta época, os brasileiros é que não passavam de meros coadjuvantes de uma rivalidade de dois países que dividiam até as mesmas cores na bandeira, além da língua e boa parte da cultura. Até 1950, porém, foi a vez dos argentinos ficarem com o posto de principal equipe do continente, mesmo sem título mundial (até porque não houve Copa do Mundo na década de 40). Dentre nove Copas América disputadas nas duas décadas, os argentinos venceram cinco e comemoraram o nono título de sua história, ultrapassando os uruguaios que venceram apenas duas edições e contabilizavam apenas oito. Brasil e Peru venceram o torneio uma vez no período.

Em 1950, os brasileiros tinham a chance de aparecer bem no cenário internacional, já que tinham vencido a Copa América de 1949 e ainda organizavam a Copa, enquanto os argentinos não participariam da competição por briga com a CBD. Sem os “hermanos”, o Uruguai acabou roubando a cena e retomou o posto de principal seleção sul-americana, conquistando o bicampeonato mundial. Porém, a partir de então, o Uruguai passou a se tornar o coadjuvante da história, conseguindo se firmar apenas em algumas competições dentro do continente. Até 1970, os brasileiros levantaram três Copas do Mundo, mas esqueceram da Copa América, enquanto argentinos e uruguaios comemoraram três vezes cada. Bolivianos e paraguaios também, mas apenas uma vez. Deste período em diante, o Uruguai se firmou como terceira força do continente. Desta forma, creio que seria injusto analisar a história do confronto entre argentinos e brasileiros sem mencionar os uruguaios.

Analisando a contabilidade de títulos, os argentinos por muito tempo estiveram atrás dos uruguaios e os brasileiros em alguns anos assumiram a ponta desta tabela. Assim, entre os anos de 1970 e 1990, os argentinos conquistaram duas Copas do Mundo. Os uruguaios levaram duas Copas América e o Brasil, uma. Durante esse período, a Argentina novamente toma a frente como principal força do continente, mas sem estar numericamente na frente no que tratamos de títulos.

O mais curioso que o texto apresenta é que, com a entrada dos anos 90 e a nova arrancada do futebol brasileiro, a rivalidade entre as duas principais seleções do continente se acirrou ainda mais. O que é bem verdade é que a partir de então o Uruguai só conseguiu vencer uma vez a Copa América, consolidando de vez seu lugar entre as equipes médias do continente e tendo que assistir a ascensão de México, Paraguai e Colômbia. A Argentina, mais uma vez consolidada como segunda força sul-americana, levantou apenas duas Copas América e uma Copa das Confederações, entre 91 e 93. Assumindo de vez a soberania numérica de títulos no continente, o Brasil levantou a Copa do Mundo mais duas vezes, além de conquistar quatro vezes a Copa América e três a Copa das Confederações.

Como retrato da grande rivalidade que se formava de vez entre os dois países temos a mídia, que começa a expor uma idéia anti-rival. Além do papel fundamental da imprensa em publicar esse sentimento, ainda temos a questão de que as duas seleções começaram a se defrontar constantemente em decisões. Mas, além da mídia como atuante, não podemos deixar de considerar que nesse período os argentinos levantaram a Copa do Mundo sub-20 cinco vezes, enquanto o Brasil apenas duas. Desta forma, apesar de a esperança de que o novo Diego Maradona estivesse para surgir fosse muito grande, a cada geração ela se mostrava falha e gerou mais frustrações a uma torcida que via sua seleção principal perder a cada ano mais um título para os brasileiros.

Quando levamos em conta a questão cultural de colônia e colonizador, que colocavam os argentinos ao lado dos brasileiros quando o confronto era contra europeus, percebemos que ela aos poucos deixou de ser tão relevante. Pelo menos ao se tratar de Brasil. Nesse período, os brasileiros deram aos argentinos três vice-campeonatos (duas Copas América e uma Copa das Confederações, entre 2004 e 2007), em momentos em que a equipe se mostrava superior a brasileira (inclusive na Copa América 2004, em que os brasileiros jogavam com o time reserva). Ainda mais por se tratar da geração argentina bicampeã mundial sub-20 (em 95 e 97).

Outro fator que não podemos esquecer no desenvolvimento dessa rivalidade é a “implicância”. A imprensa brasileira, principalmente perante os resultados conquistados pelo Brasil sobre a Argentina, desempenhou um papel avesso às regras da “boa vizinhança”. O enfraquecimento da imagem social de Maradona e as constantes afirmações sobre “ser melhor do que Pelé” reforçaram mais ainda essa implicância vinda por parte dos brasileiros. No início da década de 90, quando as provocações dos meios de comunicação não eram tão comuns, existia um respeito bem maior em relação à seleção da Argentina, que vinha de boas campanhas (título da Copa de 1986 e eliminar o Brasil nas oitavas-de-final da Copa de 1990, na Itália) e já se encostava ao placar de títulos com os brasileiros. Assim, existia um forte receio de “esquentar o clássico” com provocações midiáticas, já que a Argentina passava por uma situação melhor. A partir do momento em que o Brasil voltou a ter domínio do confronto, a mídia voltou a ter confiança na Seleção para provocar o rival platino.

Nos dois últimos confrontos, pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 2010, os brasileiros continuaram levando a melhor. No primeiro jogo (junho de 2008), porém, a mídia brasileira focou-se bastante na situação complicada em que Dunga se encontrava no comando da seleção brasileira, e o empate por 0x0 em solo brasileiro acabou não gerando muita polêmica. Muito pelo contrário, a mídia classificava a Argentina como favorita e a rivalidade sequer chegou a se tornar uma grande pauta. Porém, no segundo confronto (setembro de 2009), a imprensa dos dois países certamente apoiou o acirramento na rivalidade das equipes, que contava com temperos como Maradona no comando dos argentinos e a difícil situação dos “hermanos” na classificação das Eliminatórias. A vitória por 3x1 dos brasileiros em solo argentino, além de garantir o Brasil na Copa de 2010, acabou consolidando uma crise que já estava por vir na seleção vizinha e quase complicou sua classificação para o mundial.

Concluímos assim que temos a imprensa como um grande alicerce da rivalidade entre argentinos e brasileiros, mas não como principal agente. Não podemos deixar de ignorar a questão de que, com o avanço das tecnologias de informação, a mídia tornou-se muito mais presente na vida do torcedor e muito mais influente. O fato de os argentinos terem “percebido” que os brasileiros torciam contra a sua seleção pode não ter sido a principal razão pela qual a mídia argentina passou a retrucar as provocações brasileiras. A questão é que, com o Brasil consolidando-se de vez como principal força do continente (e também do mundo), a Seleção Canarinho passou a ser a equipe a ser batida na América. Assim, ao invés de torcer contra o Uruguai, agora é a vez de torcer contra o Brasil."

Referências Bibliográficas:

- HELAL, Ronaldo e LOVISOLO, Hugo. “Jornalismo e futebol: argentinos e brasileiros ou do ‘odiar amar’ e do ‘odiar amar’”. In Marques, José Carlos (orgs.) Comunicação e Esporte: diálogos possíveis. São Paulo, Intercom, 2007
- http://globoesporte.globo.com/Esportes/Noticias/Futebol/0,,MUL1293683-9825,00-BRASIL+X+ARGENTINA+ANOS+DE+RIVALIDADE+E+POLEMICAS.html
- www.ogol.com.br (Pesquisa de Dados)